sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Cosmogonia Africana - A Visão de Mundo do Povo Yorubá

Nosso objetivo é contribuir com o despertar da consciência humana, para a extrema necessidade de resgate e preservação das tradições culturais de matriz africana.
Precisamos entender nosso papel dentro dos mundos Físico e Espiritual, buscando sempre uma vida melhor.
O estudo do cosmo nos mostra claramente a inter-relação com a diversidade cultural, não somente africana, como também com todas as culturas que acreditam nos elementos da natureza enquanto parte do Criador.
Considerando as afirmativas científicas que vêm sendo publicadas com freqüência, como por exemplo: “O surgimento do Mundo a partir do Big Bang”, segundo Edwin Hubble – em 1929; “O homem surgiu da argila”; “A humanidade surge acerca de cem milhões (100.000.000) de anos dentro do continente africano e começa a expandir-se para outros continentes acerca de cinqüenta milhões (50.000.000) de anos”, a partir da descoberta do Homo Sapiens Idaltu. Podemos e devemos fazer uma correlação com o que já vem sendo dito pelo povo Yorubá, há muitos e muitos anos, conforme consta registrado no livro de DARAMOLA, O & JEJE, A. Awon àsà ati Òrìsà ile Yorubá. Ìbàdàn, Onibon – Oje Press, 1975, o qual passo a relatar:
- Elédùmarè/Senhor do Universo, “saturado” de tanta energia emanada por ele mesmo, “explode” e se subdivide nos Osa/Divindades: Omi/Água; Ilè/Terra; Òfúrufú/Ar; Iná/Fogo e seus desdobramentos (Odò/Rio, Òkun/Mar, Òsa/Lagoa, Òjo/Chuva, Igbó/Floresta, Aféfe/Vento, Ara/Raio, dentre outros).Disposto a criar o Aye/Mundo Físico – vida apresentou às suas divindades duas cabaças, uma contendo uma massa negra e outra uma massa branca (hoje representada pelo Èko ou Akasa/mingau feito de fubá de milho branco), além de uma árvore denominada árvore da vida. Pondo a prova que: a divindade que conseguisse colocar uma cabaça em cada mão e a árvore na cabeça, iria criar o aye. Como nenhum dos Osa conseguiu realizar o intento, Elédùmarè, então, criou uma divindade, representação dele mesmo, ou seja, Orun+mi+ela = Universo+minha+ação => Orunmilá = Minha ação do Universo. Orunmilá tendo conseguido realizar a tarefa, recebeu o saco da existência, além das cabaças e da árvore. Atirou na imensidão do Universo a terra contida no saco da existência. Enviou um camaleão - hoje símbolo de Elédùmarè e Orunmilá - para pisar na terra, comprovando a sua firmeza, e uma galinha para espalhar a terra (ilè nfé / terra que se espalha, origem do nome da cidade de Ilé Ifè – berço da civilização yorubá). Já na terra plantou a árvore colocou as duas cabaças questionando Elédùmarè quanto aos próximos procedimentos para criação do aye. Foi então orientado a juntar o conteúdo das duas cabaças e no dia seguinte, antes do sol nascer, deveria destapá-la, nascendo então Esu Igbá Keta - a terceira cabaça. Elédùmarè orientou-o, ainda, que sobre Esu deveria jogar água todos os dias antes do sol nascer para que crescesse e se multiplicasse. Atitude hoje reproduzida no processo de iniciação.
Assim iniciou-se o ciclo de criação e reprodução da humanidade. Cabendo a Orunmilá, o testemunho do destino, o controle de todas as vidas humanas no aye. Aos Osa que, como parte integrante de Elédùmarè, continuaram juntos dele, coube a tarefa de escolher a cabeça daqueles que nasciam. Logo, Orí/cabeça + Osa/divindade = Orisa. Esu, por ter sido o primeiro da existência genérica que constitui cada um de nós (argila), teve a felicidade de ter a sua cabeça escolhida por todas as divindades da natureza, recebendo o título de Enugbarijo – o boca coletiva. Muitos anos se passaram, famílias, aldeias, vilarejos, cidades e demais grupos étnicos foram sendo formados, e espalhados por todo aye, até que um dia, Orunmilá se sentindo cansado e sem condições de coordenar tanta gente, solicitou que os Orixás viessem até o aye para lhe ajudar. Na solução do problema, Elédùmarè verificou em cada grupo étnico constituído, àquela pessoa que mais se destacara como Onílè/Senhor da Terra (senhor de muitos filhos e de vasto território) ou como Ìdílé/Importante personalidade da família (aquele que apesar de não ter filhos ou terras, era considerado pela família como benfeitor) a fim de dar-lhes o seu Ìpònrí (força vital) fazendo com que ele representasse o orixá que havia escolhido a sua cabeça. Assim citamos, por exemplo, a força e representação do fogo, atribuída à: Sango na cidade de Oyo; Aira em Save; Oramfé em Ifè; “Zaze em Angola”; “Elemusat na cultura Omoloko do povo Kathókee”; “Hevioso no Dahome”; etc. Estes Esa/Ancestrais foram, após a morte, divinizados pelo seu povo e hoje são reconhecidos como a representação viva dos orixás.
Em cada canto desse planeta, seja na áfrica negra ou não, em qualquer cultura que reconheça a força e a importância dos elementos da natureza apontando uma divindade, existe a ação e a força vital de Elédùmarè. Precisamos hoje, no terceiro milênio, conhecer e entender nossa cultura e religiosidade, a fim de, na qualidade de afro-descendente, continuar a luta dos nossos antepassados pela preservação e o bom nome de Odùduwà o precursor da cultura Yorubá e restaurador da Cidade de Ile Ifè, berço, não só, da cultura Yorubá, como também, da humanidade.